domingo, 4 de novembro de 2018

=> CRÔNICA: EDMAR, AMIGO

POR: Givaldo Calado de Freitas* 
EM 26/04/2016

“Resistir é preciso, Edmar. E as terras de Simôa são ricas em resistências. Desde o passado. A começar pelo exemplo dela, Simôa. Mulher visionária, despojada, disposta, valente e desnuda de gestos menores. Pequenos. Azarentos. Apesar de não saber da profundeza e largueza de seus atributos. Felizmente louvados por cronistas que contaram e contam a sua história, no que a faz ainda maior e imensa...”.

“Sei disso, Givaldo. Estamos juntos. Vamos lá! Tomar nossa cidade de assalto, nunca. Aqui, tem dono. É da gente, daqui”, dizia-me Edmar com firmeza e coragem, em 2012. Como antes em, 2008.

“Mas eu queria lhe dizer mais um pouco, amigo. Você lembra, não é verdade? O trabalho que tivemos para prestar à Simôa aquela veneração. A gente, todos nós, eu, você. Enfim, a Cultura da Cidade partiu para dizer quem fora Simôa e o que ela representa pra nossa cidade. Sim! Para Garanhuns - ‘Cidade Simôa’, ‘Cidade Jardim’, ‘Cidade Poesia’, ‘Cidade Mágica’, ‘Suíça Brasileira’... Alcunhas, tributos de gente das letras, das ruas. Da gente, enfim, de Garanhuns. Que, por paixão... Que digam! Que, por gratidão... Que falem! Aplaudem o gesto de Simôa Gomes de doar suas terras, deixadas por seu esposo Manoel Ferreira de Azevedo, sua única herança, por ver longe, muito longe... Que seria da sua ‘Fazenda do Garcia’. No futuro, ‘Freguesia de Santo Antônio de Garanhuns’. Mais tarde, ‘Povoação de Santo Antônio de Garanhuns’. Ainda mais tarde, ‘Vila de Santo Antônio de Garanhuns’. Afinal, ‘Cidade de Garanhuns’. Ou seja: cidade de tantos cognomes. E mais dois que nos chegam: ‘Orgulho do Nordeste’, ‘Orgulho do Pernambuco’, e mais um - ‘Cidade Gratidão’. Para nossa maior alegria.”

“Você lembra, não é Edmar, do que deixamos na Avenida que leva o nome de Simôa Gomes? Você correndo para tudo estar pronto no prazo. Recordo, hoje, como registro de gratidão.” 

“Simôa Gomes de Azevedo”

“Vulto maior de nossa história e neta do sertanista Domingos Jorge Velho.” 

“Ela deixou seu nome de heroína inscrito no passado desta cidade, cujo patrimônio territorial foi fruto da doação das suas terras, no século XVIII.” 

“Placa de iniciativa do Clube Lítero-Recreativo Brasil Estados Unidos neste seu cinquentenário e da Secretaria de Cultura de Garanhuns”.

“Garanhuns, 29 de agosto de 2008”

“Mas que fez essa pessoa, Givaldo, para você falar assim?”, pergunta-me alguém em audiência comigo.  “Você está vendo, Edmar? Essa Senhora que deixou o Gabinete, faz pouco, é dona de toda essa sabedoria, e se diz de Garanhuns. Daqui, eu, incrédulo e triste, minha mente a recordar de tantos, todos desejando saber quem foram eles, cujos nomes estão nas placas de nossas artérias, a maioria delas corroídas pela ferrugem ou ilegíveis pela ação do tempo - Nilo Peçanha, Afonso Pena, Júlio Brasileiro, Gonçalves Maia, Frei Caneca... Tantas! De repente, até, Rui Barbosa, Castro Alves... É. Como a letra: ‘É de fazer chorar’.”   


Mas, Edmar, esteja onde você estiver, fique em paz. Mas, daí, me desculpe pela digressão. É que, como falar do amigo sem realçar seus atributos de despojado, de disposto, de valente e de livre de gestos menores, pequenos, azarentos...? Como fora Simôa e, ainda, inteiro com os amigos, porque decente, correto e leal, como vi em você ao longo da nossa fraterna e abençoada convivência.  

De repente, à minha mente, versos do poeta:

“Vem dolorosa
Mão fresca sobre a testa em febre dos humildes
Sabor de água sobre os lábios dos cansados.
Que essa mão fresca lhe adoce a partida,
Querido amigo. Fique em paz”.      

Mas com a assertiva de Fernando Pessoa:

“A vida é breve, 
A alma é vasta”.    

E sua esposa e filhos, a dizerem: “Você, ao mundo - 20.08.1947. Você, a Deus - 26.04.2016”.  

E eu, aqui, nessas linhas... Não sei. Penso que vou inutilizá-las ou arquivá-las. Mas, quem sabe? Amanhã, as publicarei. 

Como o poeta, digo: 

“Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
{...}
O porvir...
Sim, o porvir...” 
Contudo, enquanto decorre, repito Santo Agostinho: 
“A morte não é nada.
Eu somente passei
Para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês. 
O que eu era para vocês, 
Eu continuarei sendo.”  

E eu, aqui, concluo para tentar dormir. Mas levando pra cama a lembrança maravilhosa dos gestos despojados, dispostos, valentes e desnudados do amigo Edmar que fora como Simôa e, por cima, inteiro com os amigos, porque decente, correto e leal - repito -como vi ao longo de nossa fraterna e abençoada convivência.

*Acadêmico e Figura Pública


Nenhum comentário:

Postar um comentário