sábado, 27 de junho de 2020

=> Crônica: CANDURA

Por: Givaldo Calado de Freitas*

Às vezes a gente se engana com as pessoas. E, a esse engano, todos estamos sujeitos. Afinal, no coração delas não penetramos. Afinal, como conhecer suas reais intenções? São pessoas do bem? São pessoas do mal? Até consultamos amigos sobre essas pessoas. As respostas são controvertíveis. E a gente resolve arriscar. 
Outro dia, não sei se serve como exemplo, penso até que não, mas, vamos lá! Um gestor da nossa República dizia que “Uma coisa é   conhecer uma pessoa. Até admirá-la e aplaudi-la. Outra, é conviver com ela.” 
Confesso que, durante dias, fiquei a pensar sobre essa sentença, e a imaginar que me ocorre, vez por outra, situação idêntica. Pessoas que me chegam cândidas, verdadeiras “... botão de flor, ainda entrefechado à corrupção da vida”, no dizer de Machado de Assis, em “Ressurreição”. Pessoas que pensamos e apostamos como de brilho, no tecer um projeto, que dizem acreditar e, por isso, desejosas de a ele se incorporarem da “cabeça aos pés”.  Pessoas que “Nos olhos parecia estampada a ignorância do mal, e o sorriso era o das almas cândidas.”,  na feliz expressão do mesmo Machado, agora, em sua “Helena”. 
Para mim, o mal que fique com o mal. Com as pessoas que carregam consigo esse sentir pequeno, demoníaco. Porque, em mim, a certeza que de que ele jamais vencerá o bem. Porque, para mim, a certeza de que essas pessoas poderão até ganhar algumas pequenas batalhas, mas, no final, capitularão à força do bem, do amor... 


Dessa convicção não me afasto. Nunca me afastei.  E, quem sabe, por isso, minha firmeza, força, mesmo, no meu destino. Para mim, inarredável. E, para ele, toda minha inflexão, sob as bênçãos do Criador.   
É como Cervantes nos ensina em sua “Dom Quixote”: “Deus atura os maus, mas não para sempre.” E nós, aqui, a ouvir e a conferir Shakespeare: “Há sempre um quê de bondade no que é mal; / fossem mais perspicazes, os homens o descobririam.” 
É. Tempos de isolamento, de distanciamento..., levam-me à essas linhas. Mas, também, em tempos normais, nas ruas ou trabalho, por igual contumácia.

Imagens: Divulgação
REDIGIDA EM: 21/05/20

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