POR: Givaldo Calado de Freitas*
“E eles acorriam para nossa cidade, trazendo a ilusão de que se dirigiam para Nova Orleans.”
“Até o sonho de um encontro com ícones jazzistas americanos e brasileiros como: Miles Davis, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, André Mehmari, Vinicius Dorin, Babi Assad...”
“Chegamos a alcançar, no ano de 2.011, 91% de ocupação.”
“Que saudade! Que saudade!”, escrevi em 2015. Porque sentia mesmo. Porque ouvira mesmo. De tantos. E de tantas. Daqui e alhures. Saudade do “Garanhuns Jazz Festival”. Que chegara ao seu último dia.
Parecia que eu, que todos os milhares de apreciadores do Jazz e do Blues estavam se despedindo deles, já que, em 2016, não contamos mais com o nosso “Garanhuns Jazz Festival”, que se consolidava, que se sedimentava, que orgulhava a todos que enchiam seus pulmões para dizer: “Garanhuns, dentre tantos codinomes, é conhecida como a ‘Cidade das Flores’, a ‘Cidade onde o Nordeste Garoa’... E, a partir de 2008, com o Jazz e o Blues, também como a ‘Cidade dos Festivais’.”
É, foi uma pena. Está sendo uma pena, o fim do Festival do Jazz e do Blues. Perdermos esse diferencial, que conferia charme e glamour ao nosso Tríduo de Momo. Diferencial que não tínhamos, mas que passamos a ter para a alegria maior da cidade, sem embargo das marchinhas e dos frevos dos carnavais. E para o entusiasmo de milhares de amantes do Jazz e do Blues, que aportavam em Garanhuns, nos dias de Carnaval. Estes, hoje, concentrados em Recife e Olinda, com pequenos respingos em algumas outras cidades do interior de nosso estado. E eles acorriam para nossa cidade, trazendo a ilusão de que se dirigiam para Nova Orleans, Chicago ou Nova York, e o sonho de um encontro com ícones jazzistas americanos e brasileiros como: Miles Davis, Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, John Coltrane, Billie Holiday e tantos..., dos EUA, e como André Mehmari, Vinicius Dorin, Babi Assad, Romero Lubambo e tantos, do Brasil.
Para se ter uma ideia, em 2008, primeiro ano do “Garanhuns Jazz Festival”, a ocupação da hotelaria na cidade, com o Jazz e o Blues, chegou à marca de 51,00% contra 24,09% , em 2005; 24,04% em 2006 e 42,00% em 2007, por conta dos retiros das Igrejas Evangélicas na cidade. Chegamos a alcançar, no ano de 2.011, 91% de ocupação, com declínio em 2015, para 69,00%, mesmo assim considerada uma boa marca, na classificação da hotelaria, que vai de taxas péssimas a excelentes, passando por ruins, razoáveis, boas e ótimas. São indicadores, portanto, que não poderiam ser deixados de lado na hora de uma tomada de decisão sobre o avanço ou não do Jazz e do Blues em nossa cidade.
Aqui, impõem-se as perguntas: A1. Ultimaram as mínimas providências para que o Jazz e o Blues não fossem para outra cidade, já que, aqui, com VIII Edições sucessivas, e de sucesso - 2008 a 2015? A2. Ouviu-se o trade turístico da cidade sobre o assunto? Ouviu-se o seu comércio? Ouviram-se as suas associações de serviços de táxi e de moto táxi? Ouviu-se o pequeno comércio ambulante? Ouviu-se .... Enfim, auscultou-se a sociedade civil organizada da cidade sobre o Jazz e o Blues?
Temos que reagir! Unir forças. Iniciativa pública e iniciativa privada. Enfim, todos! Para podermos melhor “vender” nossa cidade. “Atrair” para ela os reais de fora para sua economia. E, deles, muito precisamos.
Os turistas na cidade impactam todos os seus segmentos. Isso é aqui e em todo o mundo. Do flanelinha ao empresário - são 52 segmentos da economia. É só conversarmos com o menino que toma conta do carro do turista. Com a menina que vende a sua pamonha ou a sua pipoca. Com a senhora que vende o seu milho cozido ou assado. Com o rapaz do táxi e da moto táxi. Com as pessoas dos restaurantes, das lojas comerciais, dos bares... Com os desempregados que, nos Festivais da cidade, têm assegurado o seu emprego, embora temporário. Enfim, com dezenas de pessoas. De segmentos. Que preparam os seus produtos. E que os vendem, e que são os responsáveis maiores pelo nosso desenvolvimento econômico, que pretendem participar dele com mais ousadia, com mais presença, com mais permanência, já com um programa turístico de sua cidade nas mãos.
Será que já paramos para pensar quanto um turista deixa na cidade, da forma a mais horizontal possível, ao longo de um período desses - seis dias com cinco noites? A conta é fácil. Muito simples. Vou fazê-la. Por que não? Com transparência. Com despudor... Afinal, deve ser assim.
Um turista que vem a um evento como esse gasta por dia, em média, cerca de R$ 400,00. Se recebermos 5.000 visitantes - número modesto - temos aí um faturamento de R$ 2 milhões no dia. Ou seja: R$ 10 milhões, no período.
Garanhuns pode perder esses reais? A sua economia pode dispensar esses valores, sobretudo quando sabemos que todos são beneficiados com alguns deles, como disse: do flanelinha ao empresário - micro, pequeno e grande? E, não se pode esquecer do município - recolhem-se impostos e taxas; também do estado - recolhem-se impostos de circulação de mercadoria; igualmente da União - recolhem-se uma infinidade de tributos federais. Penso que não podemos abrir mão disso, nem na crise, nem fora dela.
Ano passado, saí de minha cidade e fui passar o Carnaval em Recife. Na volta, na quarta-feira de cinzas, passava eu por Gravatá e ouvia pelo rádio uma entrevista do prefeito daquela cidade que falava de sua alegria com o Jazz e o Blues que promovera. E ele dizia: “Faturamos cerca de R$ 10 milhões”. Eu disse a Emília, que viajava comigo: “O número não é esse”. Emília, que vinha ao meu lado, me perguntou: “Você estima em quanto, Givaldo?” Eu respondi: “Eles faturaram muito mais. Aqui, tudo é mais caro. O dobro. De repente, o triplo. Esse faturamento não pode ter sido inferior a R$ 30 milhões.”
Em Gravatá não tinha menos de 10.000 turistas no Jazz e no Blues do ano passado - 2016. Lá, se gastou, por dia, em média, R$ 600,00. Ou seja: aquele faturamento/dia foi da ordem de R$ 6 milhões, totalizando cerca de R$ 30 milhões no período.
A contar pelas diárias dos hotéis... Vamos a um, de lá, equivalente a um dos nossos, daqui: R$ 334,70 por pessoa/dia, com pensão completa, lá. Em nossa cidade: R$ 198,44 por pessoa/dia, também com pensão completa. Veja a diferença. Só em hotel. E, no mais? Restaurantes, bares, compras... E tudo o que o turista gosta de consumir nessas ocasiões.
Para esse ano de 2017, temos lá em Gravatá diárias por pessoa ao preço de R$ 380,40. Em nossa cidade, R$ 218,50. Grande a diferença, não é verdade?
Aí, é de se perguntar: O que eles têm lá, que nós não temos aqui? Clima? Água? Beleza? Geografia...? Não! Nenhuma dessas riquezas. Eles têm, sim: união, ousadia e disposição ao trabalho. Trabalho organizado e permanente. Calendários turísticos às mãos, sempre melhorados e ampliados. E, sobretudo, anunciados com a antecedência recomendada, a fim de que o turista, na verdade para quem fora montado, possa melhor se programar. Melhor se organizar.
É disso de que precisamos em nossa cidade: da união do público com o privado para fazermos um grande trabalho pela cidade. Para que possamos “vender” melhor os nossos produtos. “Vender”, em uma palavra: Garanhuns. “O melhor produto turístico de Pernambuco” - dissera-me sobre nossa cidade, outro dia, um amigo que trabalha na FUNDARPE e que é conhecedor do trade turístico do estado. E esse amigo, diga-se de passagem, não é da “Cidade de Simôa”, da “Cidade Poesia” de Garanhuns.
Quando penso sobre essas questões de minha cidade, me vem a lembrança uma passagem de Machado de Assis: “As ruas podem ser ou estreitas, para se alargarem daqui a anos, ou já largas, para evitar fadigas ulteriores.”
Somos, com orgulho, a “Cidade do Clima Maravilhoso”, a “Cidade das Sete Colinas”, a “Cidade das Flores”, a “Cidade onde o Nordeste Garoa”, a “Cidade dos Festivais”... E nenhuma outra cidade há de subtrair os nossos títulos.
Ah! Não! Não, mesmo! Donde a conclusão: se lá atrás fizemos nossas ruas largas. Se lá atrás montamos festivais que ao longo dos anos deram certo, por que os encerrarmos agora? Sobretudo, sem se ouvir os diversos segmentos, responsáveis pela economia da cidade, e pelo seu desenvolvimento.
Que enfrentemos, portanto, as “fadigas ulteriores” na tentativa de revertermos esses nossos equívocos, produzidos, de certo, por nossos açodamentos. E que, hoje, tanto mal fazem à gente de Garanhuns.
Mas vamos enfrentar as fadigas, porque esse é o preço que temos de pagar.
* Acadêmico. Figura Pública.
CRÔNICA REDIGIDA EM 2017
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