domingo, 28 de abril de 2019

=> CRÔNICA: ORQUESTRA MANOEL RABELO

 POR: Givaldo Calado de Freitas*



Em 2008 escrevi uma crônica sob o título “A Manoel Rabelo”. Ela, inserta em minhas “Linhas e Linhas das Redes Sociais -Volume III”, já, já no prelo, valorizado pelo prefácio do amigo Roberto Almeida.

Naquele 2008, foi-me dado dizer, eu, Secretário de Cultura da cidade:  

“Fui criança ouvindo falar dessa Banda. A Banda da minha cidade. A Banda Musical Manoel Rabelo. Mais tarde, já adolescente... Antes, pré-adolescente, e criança, ainda, aí é que me falavam dos espetáculos musicais dela. 

Nos Natais. Ah! E em outras efemérides da cidade, quem não a via? Linda. Garbosa. Vertical... Sim, também vaidosa. E, por que não? Orgulhosa, porque orgulho da cidade e da região. E milhares vinham pra Garanhuns presenciar nosso Natal e se deleitar com o encanto de nossa Banda. 

Na época, éramos tidos como a capital do Agreste de Pernambuco. E como esse cognome nos envaidecia. Para não dizer: orgulhava.   Na casa de meus pais, 161, da Dantas Barreto. Na casa dos Valença, 123, da Nilo Peçanha, só se falava da Banda Musical Manoel Rabelo. E eu me lembro: com muito orgulho.



Eu, criança ainda, e depois... Eu torcia por um encontro com a Banda. Para ouvi-la. Para segui-la. Onde quer que ela fosse ou estivesse. A minha disposição. A minha atenção... Denunciavam meu entusiasmo. 

Ah! Quem me dera poder fazer alguma coisa por essa Banda - dizia aos meus botões. O consolo era que via dezenas, fazendo de tudo para mantê-la sempre garbosa, vertical... Orgulhando Garanhuns por onde passava.   

Seu cardápio musical era grande. Imenso! Digno de uma grande orquestra. Mas ela, através de seus músicos, atendia pela alcunha simples, singela... De Banda Musical Manoel Rabelo.

Os anos fluíram. As décadas escorreram. Até que um dia a insanidade de alguns resolveu pôr fim a Banda. Terminar com a Manoel Rabelo. Como se fora iniciativa inútil, abjeta do passado. Passado distante, esquecido... Afinal, para que preservar?  E, pior, cortando e liquidando com a alegria da gente. Sim! Porque eles desconheciam a história da cidade, seus encantos, suas riquezas... E a Banda Musical Manoel Rabelo, segura e, positivamente, era um deles. Que brilharam, através de décadas. Dentro e fora da “Cidade de Simôa”. Porque sempre instada sua presença em dezenas de cidades de Pernambuco e de outros Estados. 

Lá na frente, fora eu convocado para dirigir a cultura da minha cidade. Disse a mim mesmo, não. Não! Não posso me permitir. Porque careceria, à empresa, de disposição, de dedicação. De... Afinal, ao meu olhar, tanto se precisava construir pela cultura de Garanhuns que a ausência de qualquer desses requisitos seria excludente ao exercício, pelo menos, satisfatório dessa empresa. E, depois, ainda me dizia: há tantos mais dispostos e disponíveis que eu. Mais preparados... Também! Logo, por que eu? Por quê? E não, algum desses? 


De repente, vêm-me à mente: 

A1 - O centenário da Banda. Que se aproxima. E dele, poucos, muito poucos lembram;

A2 - Os nossos artistas. Que brilhavam. Eles, à própria sorte; 

A3 - Os nossos lindos festejos. Que encantavam. E atraíam turistas. E que davam tanto orgulho à cidade. Alguns, já mortos. Outros, já morrendo; 

A4 - Os nossos altares turísticos. Que atraíam tantos. Sim, aqueles que traziam riquezas para nossa gente. Em estado de abandono. Porque tratados com desleixo e desdém; 

A5 - Enfim, a nossa memória, sendo apagada. Ou pelo menos correndo esse risco. Conquanto, beirando esse perigo, cada vez mais iminente. Daí sussurrar à sua defesa. À sua preservação. E como que dizendo: não deixem que façam comigo aquilo que fizeram ao Castelinho e aos traços da cidade, estes precursores ao de Oscar Niemeyer com sua obra prima, Brasília.  Obras de Ruber. De visão. Para Garanhuns do futuro. 

A6 - E ainda.  Sim! E ainda toda uma história... Que se procurava esquecer, matar... Relegando a patamares inferiores, desprezíveis... Por mãos, essas, sim, assaz inferiores. Assaz desprezíveis... Ungidas por equívoco. Sim, por equívoco a gestões da cidade. Que, registro, só e tão só, para prevenir nosso futuro.”

Hoje, passados incríveis onze anos, ela continua aí. Vertical, altiva, linda... Melhor do que nunca, e a homenagear o mesmo Manoel Rabelo de outrora. Só que, agora, revestida do charme do prenome “orquestra”. Que sempre fora, tamanho seu ecletismo musical. Que a ninguém cabe eclipsar. Viva a Banda Musical Manoel Rabelo! Ou melhor: Viva a Orquestra Manoel Rabelo! Que sempre fora orquestra. Posto que sem o prenome. 

Também, hoje, passadas tantas primaveras, é me dado contar que alguém me procurou na época, com a sugestão de eu denunciar o vilão da obra? Sim, o autor da morte desse patrimônio musical da nossa cidade. Pensando em uma passagem de Aluízio Azevedo, disse-o: “Denunciar o infame? Atirar-lhe à cara a prova de sua vilania... Não! Não o faço. Deixo que a história o faça”.   

* Acadêmico. Empresário. Figura Pública.

REDIGIDA EM 27.03.2019


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