Entre os meses de abril e junho deste ano, dois homens foram mordidos por tubarões em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. Essas ocorrências somaram-se a outros 63 casos ocorridos em Pernambuco nos últimos 26 anos, chamando atenção do trade turístico do Estado e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Pernambuco (Abrasel-PE). Preocupados com os impactos negativos para os setores, as entidades solicitaram o apoio da Assembleia Legislativa, que promoveu, nesta segunda (11), uma audiência pública para tratar do tema. O debate foi promovido pelas comissões de Desenvolvimento Econômico e Turismo e de Meio Ambiente.
Presidente da Abrasel-PE, André Araújo reiterou a apreensão do grupo. “Acredito que somente com pesquisa científica será possível nortear uma solução”, afirmou. Da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Pernambuco (Abih-PE), Artur Maroja ressaltou a importância de garantir a sensação de segurança para os turistas. “No Recife, o chamado ‘turismo de mar e sol’ tem ficado difícil, o que é lamentável, pois temos a praia urbana mais bonita do Brasil”, pontuou.
A necessidade de investimento em educação ambiental foi consenso entre os participantes. Da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Luiz Gonzaga Ayres Filho defendeu que “o turista quer a verdade: saber se existe risco e o que precisa fazer para se proteger”. Ele também defendeu que haja mais divulgação de outros potenciais turísticos de Pernambuco, além daquele “de sol e mar”, de modo a reduzir o impacto em relação ao medo do tubarão sobre o setor. Para ele, no Brasil não se dá a devida atenção à cultura: “Acho que é um bom momento para rever isso”
O secretário estadual de Meio Ambiente, Carlos André Cavalcanti, destacou ações em curso, como o Atlas de Vulnerabilidade à Erosão Costeira e Mudanças Climáticas de Pernambuco. Leodilson Bastos, que coordena o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), lamentou que as sinalizações da praia não sejam obedecidas. “Não tem política pública que resolva o fato de as pessoas não respeitarem as placas e continuarem tomando banho no mesmo lugar e nas mesmas condições”, frisou.
Leodilson falou, ainda, sobre o “preocupante índice de mortes por afogamento”. “Normalmente estão associadas ao álcool, que vulnerabiliza o senso de perigo e os reflexos”, argumentou. Uma ação conjunta com a Secretaria de Educação para promover aulas de natação foi sugerida pela professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Rosângela Lessa. Futuro gestor do Cemit, Valdy Oliveira apontou para a necessidade de as prefeituras se engajarem mais no ordenamento da orla.
Luís Eduardo Antunes, da Secretaria Estadual de Turismo, defendeu a capacitação contínua de profissionais de hotéis e restaurantes, além de campanhas educativas. Mordido por tubarão em 1999, no Recife, Charles Heitor avaliou que o investimento em boias eletromagnéticas e telas de proteção devem ser prioridade. “As placas não são eficientes”, afirmou, declarando que não concorda com a proibição do banho de mar.
Incidência – Do Museu do Tubarão, em Fernando de Noronha, Leonardo Veras fez um comparativo entre o Recife e o arquipélago. “Um estudo demonstrou que era encontrado um tubarão tigre em Noronha para cada 0,0007 animais dessa espécie no Recife”, ressaltou, propondo reflexão sobre o motivo de os ataques, ainda assim, ocorrerem próximo à Capital. De acordo com ele, desde 1990, a ilha soma cinco casos de ataques de tubarão, mas nenhum deles com óbito. “Não houve casos com moradores de Noronha, que já conhecem a dinâmica daquele ambiente. Por isso, a educação é um pilar fundamental”, defendeu.
Já o pesquisador da UFRPE Jonas Rodrigues trouxe a informação de que 11 dos 17 Estados brasileiros com área costeira já registraram pelo menos uma situação de ataque de tubarão. “Não somos o único, mas aqui o problema é mais agravado”. São Paulo e Maranhão sucedem Pernambuco na estatística.
O fim das atividades do barco Sinuelo, em 2014, foi lamentado por alguns dos presentes. A embarcação fazia o monitoramento dos tubarões por meio da instalação de chips. “A suspensão não se deu por falta de recursos nem por ausência de interesse do Estado, mas avaliamos que nenhuma ação isolada seria a solução”, afirmou Leodilson Bastos, do Cemit, órgão cujo trabalho sofreu críticas. O cidadão Neyff Souza, que assistia à audiência, pediu a palavra para defender a extinção do Comitê, por considerar “que o trabalho da entidade não gerou conclusões científicas”. Ele sugeriu, ainda, vistorias aos postos de salva-vidas, que, segundo ele, carecem de cilindros de oxigênio.
Ao final da audiência, o deputado Aluísio Lessa (PSB), presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, declarou que será produzido relatório com as avaliações e sugestões levantadas na reunião. “A Assembleia está dando a sua contribuição ao ter promovido um debate equilibrado com diversas entidades. O documento será encaminhado a todas as esferas de governo”, garantiu. Presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Zé Maurício (PP) aproveitou para anunciar a próxima audiência do colegiado, na quarta (13), que irá discutir experiências exitosas no bioma Caatinga.
FONTE: Assessoria de Comunicação da ALEPE
Foto: ALEPE
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