segunda-feira, 3 de agosto de 2020

=> CRÔNICA: ROSA DOS VENTOS

POR: GIVALDO DE FREITAS CALADO*


Por lá passo sempre. Vejo-a à minha esquerda, se, eu, em direção a Maceió. Vejo-a à minha direita, se, eu, em direção a Garanhuns. Mas sempre a vejo. Mas sempre a olho. Mas sempre a aprecio. E ela, sempre linda, moderna, contemporânea. No mesmo lugar. Ereta, vertical. Indescritível. À espera, sempre, de alguém que lhe dê a atenção merecida. Que lhe balbucie uma palavra sequer. De esperança. De presença. De, enfim, aplausos pela teimosia de sua existência. De anos, muitos anos, no aguardo do sentir a sua presença na cidade que saúda ou pelo menos quis e continua a saudar: a “Cidade Encanto”, a “Cidade Poesia”, a “Cidade de Simôa”. Simôa Gomes de Azevedo.

Até meu nome, dei, Garanhuns, na esperança de teu afeto, carinho e prestígio: rosa. Quem sabe a recordar os versos de Shakespeare:“Goza de mais ventura terrena a rosa cultivada / Do que a que, fenecendo no galho selvagem, / Cresce, vive e morre em solitária beatitude.”

Pois te digo, hoje, Garanhuns. Passados tantos anos. Inúmeros, diria incontáveis, de minha presença em tuas terras. Eu, esquecida, abandonada, desprestigiada... e sem a “ventura terrena da rosa cultivada” de que fala o poeta, continuo firme e vertical, no aguardo de um filho teu para poder abrir mais a minha beleza; a minha exuberância a todos os teus filhos, e a tantos quantos vêm te visitar por gostarem de teu clima, o melhor do Brasil; beberem de tua água, a mais natural do planeta, e apreciarem a tua beleza.

Mas quero, ainda, te dizer, Garanhuns, que se Malherbe estivesse a conversar comigo, se estivesse a conhecer minha história, por certo não teria escrito versos em que diz: “Mas... pertencia ao mundo onde as mais belas coisas / tem vida curta e vã; / e rosa ela viveu o que vivem as rosas / uma breve manhã.”


Comigo, Garanhuns, tem sido diferente. Muito diferente. Como te disse, estou em tuas terras há muito. Muitos anos, alimentada pela audácia da esperança em te poder servir melhor para aumentar a tua glória e teu prestígio no concerto das grandes cidades desse nosso sofredor Brasil.

E, teimosa. E, esperançosa, fico no teu aguardo, repetindo o que dissera Gertrude Stein: “Uma rosa é uma rosa é uma rosa.” E ainda, digo: se de Garanhuns, sempre ereta, vertical e eterna.

REDIGIDA EM: 04.06.2020

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