quinta-feira, 31 de outubro de 2019

=> Mostra será inaugurada no Sesc da cidade do Agreste de Pernambuco no dia 1º de novembro, às 19h, com visita guiada pelo artista (Garanhuns)


Depois de levar suas criações para outros países — como Canadá e Turquia, onde participou de duas bienais — e ainda integrar a 21ª edição da bienal de Arte Contemporânea Sesc Videobrasil, em São Paulo, nos últimos três meses — o artista visual e fotógrafo nordestino Jonathas de Andrade chega ao segundo destino da sua exposição “Caravana Museu do Homem do Nordeste”, que faz circulação com incentivo do Funcultura do Governo Estadual. Desta vez, é a cidade de Garanhuns, no Agreste pernambucano, a escolhida para receber a mostra com mais de 10 obras de Jonathas, que é alagoano, mas elegeu o Recife como morada. A abertura será realizada no dia 1º de novembro, às 19h, no Sesc Garanhuns.

“É a oportunidade de ver como funcionam vários dos meus projetos quando estão juntos, percebendo como eles dialogam entre si e com o momento político que atravessamos no Brasil e no mundo de hoje. Eles potencializam debates que hoje ganharam outra força, no grande caldo de pensamentos e reações do país de agora”, argumenta o artista, em relação a pontos como questões urgentes para a região Nordeste: educação, trabalho, a disputa rural-urbana e a imagem do homem nordestino na atualidade. A “Caravana” estreou em Petrolina, em agosto, e chega a Goiana, em março de 2020.


O Museu é Meu

Misturar as pessoas com as obras é uma forte aposta da Caravana. Usando letras magnéticas e uma moldura metálica, o público pode recriar os Cartazes do Museu do Homem do Nordeste com o título que escolher e fazer selfies no processo, postando em redes sociais. “Visitantes têm a chance de se colocar dentro da obra, brincando de montar, de criar o seu próprio título para o museu”, ressalta Jonathas, sobre o momento da mostra apelidado de “Fotografe-se”.

Nas ruas de Garanhuns, a Caravana se espalha com fotografias em grandes dimensões buscando chegar ao público que não tem costume de visitar salas de exposição. São imagens de trabalhos feitos por Jonathas, enraizados cotidiano nordestino, que voltam a se inserir, transformados, no dia a dia do povo.

A voz do artista 
Para interagir com o público portador de deficiência visual, Jonathas gravou um áudio guia da exposição descrevendo e contando com intimidade sobre as obras da Caravana. Na prática, o áudio é uma visita guiada com o artista e a conversa prazerosa com convidados pode embalar também outros visitantes. O material pode ser acessado pela internet no celular ou ser solicitado aos mediadores.  

Abertura

Jonathas de Andrade fará visita guiada na inauguração da exposição no Sesc Garanhuns, mostrando aos visitantes projetos artísticos como “O Peixe” (2016), que estreou na Bienal de São Paulo, e provoca emoções distintas no público, ao acompanhar um pescador em seu ritual de abraçar um peixe, unindo afeto, solidariedade e violência. “‘O Peixe’ se tornou uma de minhas obras mais conhecidas, que me projetou muito internacionalmente e para a qual até hoje recebo convites para exposições e exibições em festivais e universidades”, pontua.

Tanto é que, além de já ter passado por uma bienal em Sharjah (Emirados Árabes), pelo New Museum (Nova York/EUA), Power Plant Contemporary Art Gallery (Canadá), MCA Chicago (Chicago, EUA), Festival de Vila do Conde (Portugal), está em cartaz na Bienal Thessaloniki na Grécia e na Noruega (Bienal Screen City). 

Intensa movimentação

Os últimos meses vêm sendo bastante intensos na carreira de Jonathas de Andrade. Antes de partir, em novembro, para a Guatemala, onde fará pesquisa para a Bienal Paiz, que ocorre em maio de 2020 e para a qual pode ser criado um novo trabalho, ele sente os ecos das participações na Momenta Biennale De L’Image, em Montreal (Canadá), seguida da Bienal de Istambul (Turquia), batizada de Sétimo Continente, em referência à montanha de lixo plástico que se alastra e flutua no Oceano Pacífico. Uma mostra que reuniu obras para pensar sobre a catástrofe climática e ambiental do planeta, em tempos como o do desastre do óleo derramado nas praias do litoral do Nordeste do Brasil. 

O artista alagoano também lançou, em São Paulo, o filme “Jogos Dirigidos”, que traz como protagonistas jovens surdos da comunidade de Várzea Queimada, no Piauí, que são atendidos em projeto multidisciplinar de preservação do artesanato pelo Instituto A Gente Transforma, do designer Marcelo Rosenbaum. O lançamento contou com trilha sonora original tocada ao vivo pelo músico pernambucano Homero Basílio, durante a entrega a Rosenbaum da 28ª  edição do Prêmio Montblanc, que destaca a importância do patrocínio às artes em comunidades ao redor do mundo.

Outro projeto de Jonathas atualmente em cartaz, na bienal Sesc Videobrasil, é “Procurando Jesus”, instalação interativa produzida durante residência que ele fez em Amã, na Jordânia, em 2014. O artista clicou 20 homens do Centro da capital daquele país e propõe um sistema de votação para escolher uma nova imagem para Jesus. É oferecida uma bandeja de tâmaras ao público, que come a fruta e usa as sementes restantes para votar. As fotografias contrastam com placas caligrafadas em árabe e português, com comentários de pessoas que passavam pelas ruas da cidade no Oriente Médio, demonstrando reações enviesadas, olhares de preconceito, a partir do que tomavam como uma beleza ideal.

Em 30 de agosto, abriu a Exposição “Africamericanos”, em Puebla, no México, com “Eu, Mestiço”, no Museu Amparo e, em dezembro, chega a Miami, mostrando de novo "Eu, mestiço", pela Coleção Jorge Perez.

    Sobre a mostra: dois museus com um mesmo nome
 
A “Caravana Museu do Homem do Nordeste” ganhou este nome a partir do momento em que Jonathas de Andrade se apropriou do título do museu existente no Recife (e que em 2019 comemora os 40 anos de sua criação) e começou a reunir seus projetos em torno de aspectos da cultura nordestina como se fosse um outro possível museu, o Museu do Homem do Nordeste. Em 2013, na Galeria Vermelho, em São Paulo, o artista reuniu uma serigrafia de Aloisio Magalhães, emprestada pelo Museu do Homem do Nordeste, e a fachada da galeria, também transformada em uma obra, além de três trabalhos: as instalações “Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste”, “40 Nego Bom é 1 real”, e “O Levante”. A cada nova montagem, outros projetos de pesquisa foram sendo acrescentados por ele até chegar à exposição, inaugurada em dezembro de 2014, no Museu de Arte do Rio – MAR, com curadoria de Clarissa Diniz e Paulo Herkenhoff. Contradições e perversidades históricas da sociedade brasileira são reveladas por Jonathas neste trabalho em que o artista realiza um projeto político tocante, expressando “a urgência das ruas e indagando o lugar de uma revolução popular utópica mas possível de ser reivindicada”, como publicado no jornal “O Globo”, ao citar as melhores exposições daquele ano.

Sobre as obras

Questões de raça e classe, as disputas de poderes, as tensões sociais elencadas por Gilberto Freyre são revistas e reinterpretadas pelo olhar de Jonathas de Andrade em suas obras, a exemplo da “1ª Corrida de Carroças do Centro do Recife/O Levante” (2012-2014), que mostra uma corrida de carroças organizada pelo próprio artista junto aos carroceiros pelo Centro da capital pernambucana, à época em que este tipo de transporte estava sendo proibido; e o “ABC da Cana”, que mostra cortadores de cana montando um alfabeto com seus corpos e foices. Este abecedário tomou por inspiração desenhos tipográficos de Luís Jardim, em projeto gráfico para a revista “Brasil Açucareiro”, de 1957.   Já “Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste” será exibido em formato inédito no Brasil, em tecido, assim como foram apresentados na Bienal de Dakar, no Senegal, criando nova estética para o projeto. Outra obra artística relevante na carreira do artista é o vídeo “O Peixe”(2016), que estreou na Bienal de São Paulo, e suscita vastas emoções no público, ao acompanhar um pescador em seu ritual de abraçar um peixe, unindo afeto, solidariedade e violência. As relações de trabalho que persistem desde os tempos coloniais no país estão em “40 nego bom é um real”, que traz a receita do doce enquanto nos conta histórias reais e fictícias, mostrando as complexas relações de trabalho envolvendo os 40 personagens de uma fábrica desta sobremesa tão nordestina.

Trajetória

Jonathas de Andrade se formou em Comunicação Social na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), enquanto abraçava as artes visuais. Foi lá que aprofundou o interesse mais plural em fotografia e cinema, participando de projetos como o Cineclube Barravento, e criando pequenos filmes com um grupo de amigos. Em seus primeiros contatos com a arte contemporânea, foi editor de fotografia do site 2 pontos.

Através de seu trabalho, o artista procura entender a história do Brasil a partir da identidade de uma região, das relações de poder entre as pessoas, lastreadas por um passado de colonização e explorações. Ficção e documentos são ferramentas utilizadas pelo artista, que traz como temperos desestabilizantes o erotismo e a ambiguidade.

Seu trabalho faz parte de importantes museus do mundo como Tate Modern, de Londres; MoMa e Guggenheim de NY e Georges Pompidou, na França. No Brasil, já expôs no Rio de Janeiro, Vitória, Fortaleza, Maceió, Goiânia e Porto Alegre, entre outras cidades, além de ter coleções em diversos acervos, a exemplo do MAM-SP, MAC-USP e Museu de Arte do Rio.
 
Serviço:

Abertura da Exposição “Caravana Museu do Homem do Nordeste”, de Jonathas de Andrade, em Garanhuns

Onde:  Sesc Garanhuns ( Rua Manoel Clemente, 136 - Santo Antônio, Garanhuns, Pernambuco.

Quando: 
Abertura 1º de novembro, às 19h, com visita guiada com o artista. 
Em cartaz até 14 de fevereiro de 2020.
Visitação: Segunda a sexta-feira, das 9h às 18h; 

Agendamentos para grupos: (87) 3761-2658

Quanto: Gratuita

Fonte / Texto: Tatiana Meira
Foto: Emanuel da Costa/Divulgação

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