De 13 a 16 de novembro, a Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto) – que acontece com a apoio da Prefeitura de Olinda – comemora 10 anos de existência. Há uma década, surgia, no município de Ipojuca, na praia de Porto de Galinhas, o evento literário que se tornaria, então, um porto de troca de experiências dialógicas com a literatura. Em 2014, já na cidade histórica de Olinda, a Fliporto, mais uma vez, reinventa-se, e com o tema ‘Literatura é coisa de cinema’ exalta um dos temas mais frequentes e de significativo alcance na literatura: a sétima arte. Uma das mais famosas Igrejas barrocas do Brasil, a do Mosteiro de São Bento, em Olinda, será parte integrante do evento, quando se dará a abertura da festa literária, que este ano homenageará o escritor, acadêmico da Academia Brasileira de Letras (ABL) e dramaturgo, Ariano Suassuna, autor de ‘O Auto da Compadecida’, ‘A Pedra do Reino’, e ‘O Sedutor do Sertão’, entre outros. O Complexo Educacional São Bento, localizado no coração da cidade de Olinda, irá receber os polos da Fliporto em suas dependências.
Passados 10 anos, a Fliporto está mudando. Não resulta do acaso, nem apenas da vontade de mudar. Decorre, isto sim, do desejo de trazer sempre o novo e de se adequar ao atual cenário socioeconômico e cultural. Diante disso, a Festa chega à sua nova idade com polos voltados para o público infanto-juvenil, com a Fliporto Galera e Galerinha – que presta homenagem à escritora e roteirista de TV, Adriana Falcão, além de um ambiente exclusivo para os admiradores do cinema, através do Cine Fliporto, espaços coordenados pela cine-educadora Andréa Mota e, claro, o Congresso Literário, realizado sob a coordenação do jornalista Mario Helio Gomes. Entre os confirmados do Congresso, a escritora gaúcha Lya Luft e o apresentador e autor britânico, Martin Sixsmith. O acesso a todos os espaços do evento é gratuito e as atividades começam a partir das 10h. O tradicional Circuito Gastronômico da Fliporto, que envolve a seleção de restaurantes olindenses, como o Oficina do Sabor, este ano irá contar com oito estabelecimentos com pratos exclusivamente voltados para a temática e homenageados do evento.
A V Feira Internacional do Livro de Pernambuco, evento que acontecerá paralelamente à Festa e que este ano se amplia e dobra o número de estandes para 60 espaços voltados para editoras locais e nacionais, ocorrerá na área de eventos do sitio histórico do pátio do Carmo. O homenageado será o escritor pernambucano Raimundo Carrero. Ali, escritores, editores, livreiros nacionais e estrangeiros vão discutir e trocar ideias em bate-papos sobre o mercado editorial. Nos espaços da Feira e do Congresso também serão realizados lançamentos e sessões de autógrafos.
O crescimento de visitantes ocorre em percentuais cada vez mais representativos, ao ponto de, na última edição, em 2013, alcançar a presença de mais de 100 mil pessoas nos 4 dias do evento. Este ano, a literatura e o teatro de Ariano, em forma de filme, e diversos outros autores, diretores, roteiristas mostrarão, na Fliporto, que não só a literatura é coisa de cinema e pra cinema, mas que o cinema seduz, e é seduzido pelas grandes histórias-estórias, com a câmera, a luz, a ação, a imaginação.
Confira a programação da Fliporto – Festa Literária de Pernambuco
Congresso Literário -
QUINTA – Dia 13 de novembro - 19h30
Abertura: Lya Luft e Vicente de Britto Pereira: “O valor da vida”.
Quando, ao lançar Perdas e danos, perguntou-se a Lya Luft, numa entrevista, sobre o que é mais importante na vida, ela não titubeou: “Primeiro, a vida é mais importante do que a literatura”, e, por fim, disse as coisas que considera as mais importantes na vida: “afetos e a decência”. Portanto, sobre os valores vitais e sobre a vida valorada a cada dia é do que tratará esta conversa, imperdível.
SEXTA – Dia 14 de novembro - 14h
Cláudio Assis, Xico Sá e Hilton Lacerda, com mediação de Isabela Cribari:
“Cinema e literatura: casamento suspeitoso, união estável ou de conveniência?”
Desde pelo menos 1898, quando os franceses adaptaram o Dom Quixote, a 2014, quando o Big Jato, de Xico Sá virou luz e ação de cinema, incontáveis horas e películas se ocuparam de obras literárias. Mas o que significa essa relação? Que liberdade ou libertinagem se permite um cineasta quando lê ou relê um texto? O que é melhor para um filme – ser fiel ou infiel ao livro? E um escritor – o que fica devendo ao cinema?
16h
Carina Rissi e Margaret Stohl, com mediação de Ju Costa: Como seduzir o leitor e mantê-lo fiel.
Os escritores que a crítica mais elogia não raro têm pouco interesse por suas interpretações ou devotam um desdém solene ao que dizem deles. No outro extremo, os de grande sucesso de público parecem ter um caso de amor com o leitor. Um pouco dessa correspondência explicaria que sejam best-sellers. Duas das mais exitosas escritoras da atualidade revelam se há – ou não – receitas infalíveis para isso.
18h30
Hwang Sun-Mi e Braulio Tavares, com mediação de Abel Menezes:
Escrever com alegria: a imaginação e a fantasia na literatura
“Gosto de escrever sobre pessoas em meus romances, mas me sinto muito mais livre quando escrevo uma fábula”, disse, numa entrevista, Hwang Sun-Mi. “Eu costumo anotar sonhos, há mais de 30 anos. Muitas das minhas histórias nascem de sonhos. Se eu não entendo o sonho, melhor ainda”, contou Bráulio Tavares. E mais dirão e contarão ao público da Fliporto.
20h15
Romero de Andrade Lima: Aula-espetáculo “O Trovador Cariri”
Nesta Aula-espetáculo o narrador vai contando como o Mestre construiu os seus poemas… Tanto pelo que o poeta deixou por se escrito, quanto pelo que o pintor escutou dele pessoalmente… E durante a narrativa vai também relatando como fez sua leitura ilustrada dos versos… E como musicou com toadas populares para apresentá-los na antiga tradição da fala cantada…
SÁBADO – Dia 15 de novembro - 14h
Adriana Falcão, Homero Fonseca, Rodrigo Garcia Lopes, com mediação de Samarone Lima:
Grandes e pequenos truques para contar boas histórias
Três autores muito diferentes entre si, mas tendo em comum a engenhosidade com que escolhem seus temas e cativam seus leitores. Seja nas narrativas que partem do cotidiano, ou das que buscam inspiração no cinema e no teatro, ou nas complicadas tramas do romance policial, existe um desafio comum: como contar uma história? O que cada um faz para gerar suspense, criar enigmas e resolvê-los.
16h
Lira Neto:
Conferência “Humanizando os mitos: as biografias do Padre Cícero e de Getúlio Vargas”
Num país em que biografar os vivos é algo atualmente sujeito a polêmica e até censura, como será contar a vida de dois dos mais celebrados personagens da história do Brasil – o padre Cícero e o “pai dos pobres” – Getúlio Vargas? Lira Neto, que escreveu os melhores livros já publicados sobre ambos, explica como foi sua pesquisa, redação e repercussão do trabalho, e dá dicas sobre como elaborar boas biografias.
18h30
Eliene Medeiros da Costa, Priscila Varjal e Rafael Monteiro, mediação de Marcelo Pereira:
A dimensão do humano em Raimundo Carrero – Família, religião e loucura.
Seus títulos são cheios de força dramática e trágica. As sombrias ruínas da alma, Sombra severa, Somos pedras que se consomem são alguns. Mas, independentemente de como se chamem seus livros, é do “humano demasiado humano” que tratam. Mais do que nietzschiano ou dostoievskiano, esse mundo povoado de família, religião e loucura é uma cosmovisão muito própria, que fascina os seus leitores e críticos mais atentos.
20h
Martin Sixsmith conversa com Silio Boccanera:
A incrível e triste história de Philomena e as freiras desalmadas
Mãe solteira irlandesa tem o filho tomado por uma instituição católica e entregue à adoção contra sua vontade. Poderia ser o resumo de uma história dramática de cinema. E é. Indicado ao Oscar e com grande êxito de público. O filme Philomena, do britânico Steve Coogan. Baseado numa história real escrita por Martin Sixsmith, que lança o seu livro na Fliporto e conta tudo da obra numa entrevista exclusiva ao jornalista Silio Boccanera. Falará de como chegou à história, outros casos de adoção dramática que descobriu desde então, do clima repressivo na Irlanda da época, o papel das freiras e da Igreja num país cegamente católico, as diferenças entre livro e filme.
DOMINGO – Dia 16 de novembro - 14h
Lourenço Mutarelli e Ondjaki, com mediação de Sidney Rocha:
Roteiro, narrativas e imagens: as técnicas do cinema e da literatura: aproximações e distanciamentos.
Num mundo saturado de imagens e de narrativas, o que distingue o trabalho do escritor do que realiza um cineasta? E o roteirista, que papel tem para o resultado de um filme? As imagens no cinema, na literatura e na História em Quadrinhos, por exemplo, são essenciais – mas o que há de específico em cada uma delas? Dois dos mais premiados autores da atualidade contam de suas experiências nesses gêneros.
16h30
Carlos Newton Jr., Adriana Falcão e Bráulio Tavares, com mediação de Lourival Holanda:
Ariano Suassuna: do teatro ao romance e do romance ao cinema
Se há algo que caracteriza toda a obra de Ariano Suassuna – na poesia, no teatro, no romance e até no que produziu sob forma pictórica – é a força narrativa e dramática. Com uma capacidade inigualável de comover, seja fazendo o seu público gargalhar, seja levando o seu leitor pensar e sentir algo tão grave como nas tragédias. Um professor especialista em seus textos, e dois escritores-roteiristas que fizeram os seus personagens vivos na tela da TV comentam suas leituras e releituras desses e outros livros.
18h30
Samarone Lima, Geneton Moraes Neto e Vladimir Carvalho:
“Prefiro Tolstoi”: Ariano Suassuna e seus leitores, os segredos das e aulas-espetáculo e as entrevistas.
Era um entrevistado do tipo que os bons repórteres “pedem a Deus”. As frases de impacto surgiam aos borbotões e espontaneamente. Certa vez, um jornalista perguntou a ele: “O que o senhor acha da Aids?” Ariano ficou em silêncio, e em seguida, respondeu: “Prefiro Tolstoi”. As aulas-espetáculo, as entrevistas e revelações de bastidores são o tema deste bate-papo.
20h30
Encerramento:
Palestra de Raimundo Carrero em homenagem a Ariano Suassuna e concerto de Antônio José Madureira:
“A morte – o sol de Deus”, “A vida – a estrada” e muitas outras obras compôs Antônio José Madureira com Ariano Suassuna, com quem fundou o Movimento Armorial, nos anos 1970. Também do movimento participou o romancista Raimundo Carrero, sua A história de Bernarda Soledade – A Tigre do Sertão tem os elementos da estética armorial. Um antológico encerramento da Fliporto 2014 com a conferência-recital. A melhor homenagem ao Mestre.