POR: Givaldo Calado de Freitas*
Ainda dia de repouso e de reflexão. "Ainda?", indaga-me um amigo usuário das redes sociais. "Sim!", respondi. Porque o repouso teria começado no sábado. Quem sabe, sábado seria o primeiro dia. Domingo o segundo. Daí, "ainda". Pelo menos para quem não trabalha no sábado. Uma minoria cada vez menor. Coisa do mundo moderno. Coisa do mundo contemporâneo. E agora, com a reforma...
Vem-me à mente a imagem do Pau Pombo. Imagem e imagens repousantes, sonhos e realizações de um grande garanhuense: Ruber van der Linden. Ato contínuo, também, à mente, imagem do seu "Castelinho".
Nas minhas tardes de domingo, eu não perdia um passeio gostoso pelas ladeiras e bosques do Parque Ruber van der Linden. Lá, eu aspirava o perfume de suas rosas, jasmins, angélicas, lírios... E apreciava as suas belezas, inclusive de suas violetas e begônias. Sempre gostei de flores. Sobretudo, de rosas. “Um jardim sem rosas, meu filho, não é jardim.”, dizia-me minha mãe. E esse meu gosto por jardins, herdei de minha mãe. Dos jardins de minha mãe, lá, na Avenida Dantas Barreto.
Nas terças, com meus pais, nossa passagem obrigatória era o "Castelinho", morada de Ruber van der Linden. E por lá, íamos em direção às novenas na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Eu, ainda, criança, adolescente, e, mais tarde, adulto.
Ah! Quanta tristeza me deu quando, um dia, vi, caído por terra, o nosso "Castelinho". Pensei: Onde quer que esteja, ele, Ruber van der Linden, deve estar a murmurar: "Eu fiz tanto por minha cidade, e minha cidade deixou que apagassem parte de minha história. De meu rancho, na minha alcova, sonhei tanto com minha cidade. Sonhos, muitos deles, realizados. E, hoje... Ah! E hoje..."
Ainda recolhido, disse a mim mesmo: Não! Garanhuns não pode mais permitir a prática da intolerância, do desrespeito... ao seu patrimônio. À sua história de glórias e glórias.
De repente, vem-me à mente Vinicius. Sim, Vinicius de Moraes: "Em casa há muita paz por um domingo assim, / A mulher dorme, os filhos brincam, a chuva cai... / Esqueço de quem sou para sentir-me pai / E ouço na sala, num silêncio ermo e sem fim, / Um relógio bater, e outro dentro de mim".
Penso, no entanto: Minha mulher não dorme mais. Meus filhos já estão crescidos para brincar e, depois, estão longe. Só a chuva cai. E forte. Por isso o programa que fizera, ontem, com amigos, para sairmos por aí caminhando, está abortado. Da sala, ouço vozes e vozes em contraponto ao silêncio ermo e sem fim do saudoso poeta. O relógio não bate mais. São os amigos que chegam para festejarmos este domingo 13. A paz já se foi, e parto para festejar a vida com tantos.
* Figura pública. Empresário.
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